quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Desvendando o futebol da Rússia

Entender as características do futebol de outros países, e principalmente dos que não são amplamente divulgados na mídia, não é uma tarefa fácil. Muitas vezes nosso modo de encarar o futebol, com a ressalva de como vemos também o futebol das três maiores ligas europeias (Itália, Espanha e Inglaterra), nos causa estranhamento quando vamos ver a estrutura do esporte e como ele é encarado em outros cantos.

No caso dos países que passaram pela experiência Socialista, em especial os do Leste Europeu, a configuração dos clubes e federações é algo bem peculiar. Para não nos estendermos demais, a ideia é ver como se organiza o futebol russo atualmente e mostrar como ele se transformou após o fim da União Soviética.

Para início de papo, tem que se entender que o futebol nos países Socialistas, em praticamente todos os casos, não era oficialmente profissional. Os clubes em geral eram representantes de órgãos governamentais, tais como exército ou polícia, e seus jogadores eram, diretamente, empregados destes órgãos. Nos grandes clubes soviéticos, a tônica era o atleta receber uma nomeação, digamos, fictícia na repartição e exercer somente suas atividades relacionadas ao jogo. Deste modo, recebia seu salário e continuava a ser um jogador amador, em tese.

Assim temos a configuração de alguns dos principais clubes:
* CSKA Moscou - time do Exército
* Dinamo Moscou - time da KGB (polícia secreta)
* Lokomotiv Moscou - time dos trabalhadores da rede ferroviária
* Spartak Moscou (na foto acima) - ligado ao setor industrial em geral
* Torpedo Moscou - ligado ao setor da indústria armamentista
* Dinamo Kiev - time da polícia secreta em Kiev

Apesar dos exemplos dados pertencerem quase todos a Moscou, a mesma tendência se seguia por toda a URSS, com os clubes menores das mais diversas regiões representando organismos locais. Deste modo, não era de se espantar que, dependendo da conveniência para o poder soviético, algum clube recebesse favorecimentos em certas ocasiões.

Os grandes campeões do período soviético foram Dinamo Kiev (13 títulos), Spartak Moscou (12) e Dinamo Moscou (11), apesar de entre 1936, ano da criação da Liga da URSS, e 1961, somente clubes russos tenham vencido-a.

Porém, em fins 1991, a URSS se dissolvia e novas tendências se apresentavam para os clubes russos, sendo estes separados dos órgãos que os regiam (e sustentavam) e tendo de caminhar com suas próprias pernas rumo a adaptação para o profissionalismo legal. O Dinamo Moscou, por exemplo, ligado a neste momento extinta KGB, ficou sem este suporte e definhou, não mostrando mais a força de outrora e sequer ameaçando conquistas do Campeonato Nacional, assim como aconteceu com o CSKA e tantos outros.

Neste furacão, alguém tinha de sair ganhando, e este foi o Spartak Moscou, que literalmente exagerou na dose, ganhando todos os campeonatos entre 1992 e 2001, a exceção de 1995, vencido pelo Alania Vladkavkaz. Outro clube que ganhou mais destaque também foi o Lokomotiv (na foto acima), que não havia feito grande barulho durante o período soviético, mas que colecionou a partir de 1992 boas participações, vices-campeonatos, até chegar ao título em 2002 e 2004.

Mas se Dinamo e CSKA enfraqueceram, por que Spartak e Lokomotiv ascenderam? Simples: os setores de indústria e ferroviário não eram tão dependentes do governo soviético quanto o exército e a KGB. Quando a URSS acabou e os clubes se viram desligados da administração pública, os que tinham mais capacidade de organização e equilibraram melhor suas contas, conseguiram se destacar. E esta foi a tônica dos anos 1990: O Spartak, mais organizado e estruturado, logo, com mais dinheiro e mais forte que os rivais, levando quase todas as conquistas. E o processo de profissionalização do futebol russo foi duro com o Dinamo, que até hoje (Janeiro de 2009), não conseguiu mais nenhuma conquista.

Porém, caso diferente foi o do CSKA. Após a queda da URSS e a consequente queda do clube, este demorou demais para se reorganizar, mas o fez de um modo que o seu rival Dinamo ainda não teve a sorte de ter experimentado: Investimentos privados violentos, tão comuns hoje no futebol em qualquer parte do mundo, em especial do magnata Roman Abramovich e de empresas de petróleo, gás e banco ligadas a ele. Mediante tal política, o CSKA sagrou-se campeão russo em 2005 e 2006, além de vencer a Copa da UEFA de 2005, garantindo o primeiro título continental de um clube, e sempre estando na briga pelo título nacional. O mesmo viria ocorrer com o Zenit, de São Petesburgo, que passou a ser patrocinado pela gigante do gás na Rússia Gazprom, que também investe em outros clubes menores como o Soyuz e Volga. Com dinheiro sobrando, o Zenit se reforçou e conquistou em 2006 o Campeonato Russo e em 2008 a Copa da UEFA. Abaixo fotos dos citados títulos continentais de CSKA e Zenit:















Depois de passar mais de uma década de recesso, provocado pelo fim da URSS e pelas sucessivas crises financeiras, em pouco antes de meados da década de 2000 o futebol russo conseguiu se encontrar e, a base de pesados investimentos nos clubes já desligados a muitos anos de qualquer órgão governamental, vem crescendo e conquistando espaço nas competições europeias, em especial na Copa da UEFA. Sua liga vem ganhando importância e já está na cola de outras mais famosas e tradicionais, como a alemã, a holandesa e a portuguesa.

Por enquanto, é só isso.
Até mais!

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