quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O Debate: Pontos Corridos X Mata-Matas

Uma das maiores transformações no futebol brasileiro nos últimos anos, senão a maior transformação, foi a adoção do sistema de pontos corridos no Campeonato Brasileiro em 2003, sistema que faz com que todas as equipes que disputam a competição se enfrentem duas vezes ao longo desta, sendo a classificação final definida pelo somatório dos pontos acumulados. Este sistema veio substituir o até então sempre presente mata-mata, onde um certo número de equipes se classificava para uma segunda fase.

Voltando um pouco no tempo, entramos na década de 2000, onde o debate sobre a adoção dos pontos corridos já era algo que ocorria dentro da CBF, em especial motivado pela imprensa, que ao olhar para fora, ou seja, Europa (em especial) e outros países sulamericanos, via organização e eficiência nestes certames. De fato, na totalidade das ligas europeias, este é o sistema que vigora a muitas e muitas décadas. Começou a se pensar que a mudança para esta fórmula de disputa seria essencial para a organização do futebol brasileiro. Deste modo, sob muitos chiados de um lado e esperança de outro, em 2003 o Campeonato Brasileiro seria disputado por 24 equipes em muito longas 46 rodadas, ao fim das quais Fortaleza e Bahia foram rebaixados e o Cruzeiro sagrou-se campeão, com este momento na foto abaixo:



O campeonato de 2004 repetiria a fórmula, já que boa parte da imprensa e público a havia consagrado. Outra boa parte a odiava, falando que o futebol brasileiro necessita das finais e tinha estas como uma grande tradição. Pois então... chegamos a 2009 e vimos que os pontos corridos vieram pra ficar, com o mais razoável número de 20 equipes desde 2006, tendo a Série B a mesma exata configuração desde o citado ano.

Muito ainda se discute, e aqui no Jogando na Retranca serão expostos alguns argumentos e críticas dos dois lados:

Os que são contrários ao modelo de pontos corridos usam como o principal pilar de sua argumentação o fato de não haver finais, não haver a dramaticidade de passar por fases eliminatórias tais como semi-finais, não haver disputas de pênaltis e, principalmente, não haver a grande expectativa em torno de um único jogo que consagraria o campeão nacional. Além disso, argumentam que o campeonato de pontos corridos pode ocasionar uma elitização, tornar um pequeno grupo de times os habituais concorrentes ao título. Isto mexeria com o inesperado, elemento talvez presente no futebol mais do que em qualquer outra modalidade esportiva. Temos como exemplos o Flamengo em 1992 e o Santos dez anos mais tarde, times que foram para a segunda-fase como os últimos colocados entre os classificados e acabaram sagrando-se campeões. Dentro ainda desta ideia de elitização, há a defesa de que há uma tendência a regionalização da equipe campeã, sendo que, a excessão da edição de 2003, em todas as outras um clube paulista foi campeão (nas últimas três, o São Paulo).

Outro ponto também lembrado é a tradição brasileira em promover finais. Praticamente todos os torneios estaduais e nacionais até 2003 haviam sido decididos em finais, então seria uma violência contra um costume do futebol brasileiro seu principal campeonato não possuir uma final. Por fim, existe a argumentação de que fases finais geram maiores receitas com arrecadações.

Do outro lado, muitos vêem a adoção dos pontos corridos como uma forma de modernização do futebol brasileiro. Um dos carros chefes a defender-los foi a televisão. Lembrando que, mais do que nunca, a TV é um elemento da maior influência em nossos torneios, já que dela provém boa parte do orçamento dos clubes. E qual a razão de, para a TV, os pontos corridos serem mais vantajosos? Ora, muito fácil: Se existe uma calendarização definida, os que montam as grades de programação e tabela já sabem exatamente onde devem encaixar cada jogo em cada dia, cidade e horário, de acordo com sua conveniência. E por mais que esta pareça ser uma relação de submissão dos clubes para com a TV, estes dependem dos altos valores pagos pelas transmissões para tentarem manter seus gastos minimamente em dia (e na maior parte das vezes, mesmo assim não conseguem).

De um certo modo, o próprio consumidor de pacotes de TV por assinatura também é beneficiado, já que sabe por quantos jogos pagou para ver seu time jogar, sem a incerteza de ver-lo precocemente fora do campeonato. Do mesmo modo, os clubes se beneficiam, já que fazem um planejamento para um torneio no qual já sabem a data em que irão parar de disputar-lo. Isto iria também contra as incertezas das fórmulas de disputa, que variavam a cada ano.

Há também o argumento do mérito: premiar a melhor equipe, a mais regular, a que mais pontuou, tornando por todos os ângulos possíveis justo e merecido o título para um certo clube, pelo menos em tese. Por fim, também a ideia de que já existem torneios típicos de fases de grupos e mata-matas para o futebol brasileiro, sendo os estaduais e a Copa do Brasil, além da Copa Libertadores e da Copa Sulamericana, para os classificados através da Série A.

Apresentadas as argumentações, há a impressão de que o modelo dos pontos corridos acaba sendo mais vantajoso para o futebol brasileiro. De fato, pôde-se notar uma maior organização da competição nacional, com os clubes se planejando de forma melhor e as receitas com direitos de transmissão aumentando de forma bastante significativa. Também há a fixação de uma fórmula de disputa, de um calendário, etc. Além disso, os clubes jogam mais vezes em seus domínios e, dependendo de como for, podem conseguir arrecadações excelentes, como o Flamengo em 2007 e 2008.

E, quanto a sede por finais, semi-finais e etc, aí temos a Copa do Brasil e os estaduais para nos saciarmos.

Por hoje, é só isso.
Até mais!

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